Incêndios em carros elétricos são um problema que bombeiros do mundo todo estão tentando resolver. Em um acidente que envolva um veículo a bateria, o fogo costuma durar mais e demandar mais água para ser extinto. Por causa disso, o Corpo de Bombeiros de São Paulo lançou uma consulta pública visando criar uma regulamentação para vagas e carregadores de carros elétricos.
Entre as propostas da minuta do Parecer de “Ocupações com estações de recarga para veículos elétricos” (veja na íntegra aqui) estão regulamentações técnicas para a instalação de carregadores e segurança estrutural, como equipamentos que desliguem os carregadores de forma manual estando entre 20 e 40 metros do aparelho, a presença de extintores e sinalizações de perigo.
Os pontos mais polêmicos da proposta estão nas vagas.
Em áreas externas, as estações de recarga seriam obrigadas a ter um distanciamento de 5 m, para cada lado, em relação a outras vagas ou estarem divididas por paredes corta-fogo com pelo menos 1,60 m de altura e 5 m de largura.
Para estacionamentos com mais de 50% de área coberta ou em sobressolos ou subsolos, a parede corta-fogo deverá se estender até o teto e cada vaga deveria ter sistema de detecção de incêndio com dois chuveiros automáticos (sprinklers) com vazão de água definida por este regramento.
O parecer técnico também prevê a proibição do carregador em vagas duplas, onde um carro prende o outro. E prevê que cada carregador tenha um ponto de desligamento (disjuntor) a uma distância entre 30 e 40 metros, dois extintores do tipo ABC e vigilância permanente.
Ou seja, além do custo envolvido para a instalação de toda infraestrutura elétrica necessária, com especificação já prevista por NBR, também seria necessário criar infraestrutura de combate a incêndio, ainda mais cara. E não há distinção, no parecer técnico, para uso particular ou público.
Logo, se esse parecer técnico virar lei, quem mora em apartamento terá ainda mais dificuldade para ter seu próprio carregador. Novos empreendimentos terão que contemplar as estruturas de proteção contra incêndios em seus projetos. Na cidade de São Paulo, por exemplo, novos prédios com garagens são obrigados a ter carregadores de carros elétricos.
O argumento do parecer técnico é o “potencial risco de ignição das baterias de ions de lítio, que podem aumentar consideravelmente a carga de incêndio nos estacionamentos”. Pois, “estudos globais, que versam sobre protocolos seguros para instalação de estações de recarga de veículos alimentados por baterias de lítio, concluíram que há uma melhor eficácia de extinção a esta categoria de incêndio quando há uma detecção e combate nos primeiros instantes de fuga térmica”.
Apesar da proposta de regulação ser bastante rigorosa, estatisticamente carros elétricos têm muito menos risco de incêndio quando comparados com carros a combustão.Segundo um estudo feito pela Energy and Climate Intelligence Unit, na Noruega, um dos países mais eletrificados do mundo, em 2022 foram registrados 3,8 incêndios por 100.000 carros elétricos ou híbridos contra 68 incêndios por 100.000 carros a combustão, ou seja, quase 20 vezes mais.
A Tesla, uma das maiores do mercado e referência no setor elétrico, afirma que o número de incêndios nas estradas dos Estados Unidos envolvendo Teslas entre 2012 e 2021 foi 11 vezes menor por quilômetro do que o número de todos os carros (a grande maioria dos quais com motores a gasolina ou diesel).
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